OPINIÃO
O ser Humano é, por regra, avesso a mudanças. Dois exemplos muito simples dessa falta de predisposição: não temos por hábito dizer que sim e por isso é que é sempre mais cómodo em caso de dúvida dizer que não; veja-se que as crianças dizem sempre que não, antes de dizerem que sim.
Mas não há regra sem excepção. E porque, apesar de tudo, as mudanças acontecem mesmo por vezes, não podemos deixar de retirar as devidas ilações e analisar as consequências dessas alterações.
Dito isto, entrados em 2023, mudado o ano (e neste caso as mudanças são mesmo inevitáveis, não dependem da vontade individual), é tempo de olhar Lisboa! Na capital do país temos um presidente de Câmara – Carlos Moedas – que, escolhido pelos lisboetas, foi aquilo que muitos interpretaram como um sinal claro de uma mudança pretendida.
Ora, o mandato tem quatro anos e com ele quatro orçamentos. Moedas conta hoje com dois deles aprovados, sendo que não dispõe de maioria na Câmara e na Assembleia Municipal. O último aliás, é o maior orçamento municipal de sempre.
Olhemos aos factos: mudança de presidente, dois de quatro orçamentos aprovados. Começa agora o tempo de os lisboetas começarem a olhar a sua cidade.
Quando se diz olhar a cidade, o que se lhes pede não é que olhem à propaganda das máquinas comunicacionais ou das redes sociais. Aí tudo é perfeito, ou quase…
O exercício que se pede aos lisboetas neste ano de 2023 é mais exigente. Lisboa teve uma mudança e dois anos depois, a meio do mandato, impõe-se que se pergunte: como está a recolha de lixo? A cidade está mais limpa ou mais suja? Na habitação, há mais ou menos casas disponíveis? O estacionamento melhorou ou piorou? Como estão as nossas escolas? A que custo conseguiremos levar por diante a Jornada Mundial da Juventude? Qual o ponto de situação das ciclovias? E da mobilidade, os lisboetas tiveram ganhos neste domínio? Como está o funcionamento da SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana? E os Serviços do Urbanismo, funcionam melhor, igual ou pior? Como estão os nossos arruamentos? E os nossos bairros? Como está o nosso espaço público? E os espaços verdes? E a Educação? A cultura? O que é feito do Orçamento Participativo? Como está o apoio ao desporto? E a acessibilidade pedonal? Como está a relação com a Juventude? E o apoio a quem mais precisa? Os Direitos Sociais? Os Centros de Saúde? As Pessoas em situação de sem-abrigo?
De uma forma tão sucinta quanto possível, há que perguntar se a mudança pretendida foi a mudança obtida para a cidade e para os seus habitantes. Se valeu a pena e se a vida dos Lisboetas melhorou nestes dois anos que passaram com a gestão actual da autarquia.
O exercício do poder pode ser inebriante. Sabemos também que os políticos se deixam, muitas vezes, embrenhar nos anúncios fáceis, dos resultados a pensar nas páginas dos jornais e nas redes sociais, das medidas populares e populistas.
Mas o que conta mesmo é a vida dos cidadãos e a forma como é impactada pelas políticas dos seus eleitos locais. O cidadão tem a responsabilidade de verificar se as coisas estão melhores graças à escolha que fez e se a sua vida melhorou ou piorou.
Do lado de cá – ou seja, do lado de quem se preocupa com Lisboa e com as escolhas políticas que são feitas para a cidade – fica, desde já e com a devida antecedência, o alerta: não é com propaganda que se mudam vidas. Essa mudança só é possível com acções concretas e políticas adequadas.
É absolutamente necessário ouvir todos e incluir todos, acolhendo o maior número de sensibilidades possível na definição das políticas da autarquia lisboeta. É necessário somar, porque todos somos poucos para fazer face às dificuldades dos muitos que são representados pelos eleitos locais.
Ainda há tempo para invertermos o rumo que está a ser seguido, pois a resposta às questões que coloquei neste texto são claramente negativas e a cidade não está hoje melhor do que há dois anos atrás.
Em 2023, muitos são aqueles que se vão manter atentos e vigilantes – de forma serena e responsável – para continuar a assegurar que Lisboa e os lisboetas tenham efectivamente uma vida melhor.
Diário de Notícias
Manuel Portugal Lage
02 Janeiro 2023 — 13:25
– Manuel Portugal Lage é advogado e membro do Partido Socialista
actualizado em: 04/02/2023 06:36
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Vou responder às questões colocadas pelo cronista, pelo menos nas que tenho conhecimento:
O exercício que se pede aos lisboetas neste ano de 2023 é mais exigente. Lisboa teve uma mudança e dois anos depois, a meio do mandato, impõe-se que se pergunte:
– Como está a recolha de lixo?
R: Péssima, existindo dias em que não existe recolha e o lixo amontoa-se nas ruas;
– A cidade está mais limpa ou mais suja?
R: Mais suja devido à falta de civismo e de cidadania de muitos residentes fixos e AL’s;
– O estacionamento melhorou ou piorou?
R: O estacionamento é praticamente selvagem. Em cima dos passeios, das passadeiras para peões e nas paragens dos transportes públicos em plena infracção ao Código da Estrada. E a polícia tem conhecimento do facto e não actua;
– E da mobilidade, os lisboetas tiveram ganhos neste domínio?
R: Nenhuma! Com passeios ocupados por latas de duas e de quatro rodas, além de trotinetes, os peões têm de circular pela estrada!
– E os Serviços do Urbanismo, funcionam melhor, igual ou pior?
R: Na área de higiene urbana é uma lástima! Lavagem de ruas, desentupimento de sarjetas, varredura manual ou mecânica das ruas é de tempos a tempos;
– Como estão os nossos arruamentos?
R: Buracos, lancis de passeios partidos devido ao estacionamento selvagem;
– Como está o nosso espaço público?
R: Existe mesmo espaço público?
– E os espaços verdes?
R: Na minha zona não existem espaços verdes nenhuns;
– E a Educação? A cultura?
R: O civismo e o espírito de cidadania deixaram de existir. Parece estarmos na era dos Neandertais;
– E a acessibilidade pedonal?
R: Péssima em todo o sentido como acima já foi referido;
– E o apoio a quem mais precisa?
R: Inexistente, pelo menos na parte que me toca;
– Os Direitos Sociais?
R: O que é isso de direitos sociais? Existem realmente?
– Os Centros de Saúde?
R: Para passar uma receita são três dias úteis;
– As Pessoas em situação de sem-abrigo?
R: Tudo como dantes, no quartel d’Abrantes.