– O problema é que o actual governo NÃO é de esquerda. A palavra SOCIALISMO poderia induzir essa afinidade com esquerda, mas no caso presente, não é. Um governo de esquerda NÃO ROUBA contribuintes de parcos recursos financeiro/económicos, quando lhes usurpa os subsídios de férias e de natal – que já nem chegam – para pagar o famigerado imposto do IRS só porque o contribuinte teve a “infelicidade” de ficar viúvo! Menos rendimento, MAIS imposto? Esquerda? Conversa da treta!
🇵🇹 OPINIÃO
published in: 3 semanas
As minhas filhas frequentaram o ensino privado até ao início deste ano lectivo e o que está a acontecer na escola pública deixa-me de coração apertado.
Elas não sabiam o que eram “furos”, porque a ausência de um(a) professor(a) era sempre colmatada, e este ano coleccionam furos, atrasando-se no ritmo desejado de aprendizagem.
Com elas, ainda assim, não aconteceu o supremo sacrilégio de terem no currículo disciplinas para as quais não são atribuídos professores ou são atribuídos muito tarde no ano lectivo.
Disciplinas a que todos os alunos serão avaliados sem estarem em igualdade de circunstâncias, não apenas entre público e privado mas também entre alunos do próprio público.
As greves, obviamente, só vieram agravar esta dicotomia entre os que aprendem porque têm professor(a) e os que ficam a marcar passo à espera de melhores dias. Podendo haver razões para discordar das formas de greve (e existem, já lá vamos), não é sério dizer que a greve é o problema.
Ela parece absolutamente necessária para obrigar o governo, que se diz de esquerda, a apostar na escola pública, valorizando os seus profissionais (pagando melhor e dando estabilidade na carreira) mas também fazendo uma avaliação séria, para que bons e maus não sejam tratados da mesma maneira.
Sendo certo que estas greves “ad-hoc” procuram, sobretudo, causar imprevisibilidade na vida dos pais dos alunos, também eles profissionais à procura de melhores condições de vida, não podem os professores esperar que a solidariedade seja eterna, porque muitos desses pais acabam prejudicados profissionalmente quando não têm onde deixar os filhos.
É claro que a greve para ser eficaz tem de causar transtorno, mas as regras são para cumprir. Por exemplo, a ideia de financiar com dinheiro dos professores a greve dos assistentes operacionais, para assim fechar as escolas, revela uma arrogância cobarde.
Arrogância por se acharem no direito de influenciar as decisões de outros profissionais, esfregando-lhes na cara a sua maior capacidade financeira, e cobardia por não assumirem esse poder de fazer parar a escola.
Não quero as minhas filhas na escola apenas para aprenderem a matéria que está no programa curricular, antes desejo que se formem como pessoas procurando perceber o outro, defendo não apenas os seus direitos mas os direitos de todos.
Para quem viveu os primeiros seis anos de ensino com total estabilidade, este é um tempo de desafio e de superação. Espero ser capaz de fazer a minha parte, enquanto aguardamos todos que se resolva o conflito entre os profissionais de ensino e o governo.
Espero igualmente que esse governo, que se diz de esquerda, entenda que ao maltratar desta forma a escola pública está “tão só” a promover o agravamento das desigualdades sociais.
Sou totalmente defensor da Escola Pública, contra o cheque-ensino e a favor da utilização dos nossos impostos para, em matéria de ensino, financiar em exclusivo a rede de escolas do Estado.
Começa a ficar evidente que há no Partido Socialista muito quem pense que o melhor é fazer no Ensino o que há muito se faz na Saúde, deixar o público mirrar para que o privado possa florescer.
Jornalista
Diário de Notícias
Paulo Baldaia
16 Janeiro 2023 — 07:00
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