🇵🇹 OPINIÃO
As sucessivas polémicas, com diferentes níveis de gravidade, não têm estado apenas a fragilizar o Partido Socialista, estão também a levar a Democracia para um estado catatónico.
O eleitorado, cérebro do sistema democrático, está a receber informação que o induz a tomar decisões que, só na aparência, ajudam a salvar a Democracia de si própria.
Dar força ao Chega é a forma mais fácil de paralisar o sistema, na esperança de que ele não continue a reproduzir a corrupção, o nepotismo, a difícil relação com a verdade. A sondagem publicada ontem pelo DN mostra que o partido de André Ventura é o que mais cresce.
E ninguém se espanta, porque a consequência natural de “eles serem todos iguais” é os populistas tirarem benefício do lamaçal em que se transformou o noticiário político.
Discutir o país passou a ser discutir a legalidade dos comportamentos, a ética republicana, a capacidade política. Discute-se o que nos parece estar em falta e alimenta-se a ideia de que o país não tem solução.
É penoso ver a forma como muitos governantes, deputados e autarcas desistiram de lutar por um país mais justo e se renderam às carreiras rápidas, às portas giratórias entre público e privado, tirando benefício pessoal de decisões que tomaram em nome de todos.
É desolador que a grande maioria se dê por satisfeita por não ser como eles e não sinta a obrigação de desmascarar os aldrabões que se aproveitam das falhas do sistema e vivem à custa do trabalho dos outros. Ajudam a alimentar o monstro do populismo que cresce igualmente com jornalistas distraídos e procuradores vingativos.
Por estes dias, sem operações de grande envergadura e sem arguidos da primeira divisão mediática, o desgastaste da classe política, em geral, e do governo, em particular, faz-se pela acumulação de casos e casinhos.
Mas nada nos diz tanto sobre a vontade de atingir intencionalmente a Democracia como o levantamento de suspeitas a partir de nada (veja-se o caso Montenegro) e a abertura de inquéritos que nunca saem do sítio (veja-se o caso Cafôfo).
É também com isto que o Chega cresce. Não apenas pela natural revolta de cidadãos a quem tudo falta e para quem nunca há solução, mas também porque existe uma estratégia deliberada de convencer a opinião pública de que eles são todos iguais, a podridão na política é generalizada e só a extrema-direita tem a solução.
Não tem, como é óbvio, nem aqui, nem em lado nenhum. O país caminha perigosamente para um cenário em que um partido que tem um líder racista e xenófobo pode chegar ao governo.
A única coisa boa da chegada deles ao poder é que nos anos seguintes, muitos anos, não quereremos aturar essa gente. Eu, por mim, nem preciso de experimentar para saber como a Democracia vai sofrer, mas se o povo fizer essa opção também é democracia.
É como injectar o vírus em quantidades pequenas, procurando criar memórias para uma defesa mais eficaz num ataque futuro. Esperemos que seja uma vacina de efeito rápido e não demoremos muito a correr com eles.
Jornalista
Diário de Notícias
Paulo Baldaia
23 Janeiro 2023 — 00:25
published in: 5 dias
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