– Importante lembrar aos mais “distraídos” que o Holocausto nazi causou milhões de judeus mortos, da mesma forma que o regime russonazi 🇷🇺☠️卐☠️🇷🇺 está a provocar o genocídio de milhares de ucranianos. Lembrar também o anti-semitismo de Lavrov, um dos putinofantoches do regime russonazi e da Banalidade do Mal.
DIA INTERNACIONAL EM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO
Neste Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, os canais TVCine estreiam um documentário de investigação em torno do julgamento histórico daquele que foi considerado o arquitecto do genocídio judeu. A Confissão do Mal: As Gravações Perdidas de Eichmann, de Yariv Mozer, dá a ouvir Adolf Eichmann na sua verdadeira e tenebrosa versão, pela primeira vez.

Parte da dinâmica de A Confissão do Mal passa pelo contraste absoluto entre o que Eichmann disse, ou melhor, negou em tribunal e o que se ouve nas gravações.
“Não me arrependo de nada. Cada fibra do meu ser resiste a dizer que fizemos algo de errado. Não (…). Se tivéssemos matado 10,3 milhões de judeus, eu teria ficado satisfeito e diria: “Óptimo. Exterminámos um inimigo.” Nesse caso, teríamos cumprido a nossa missão.”
Estas são apenas algumas das frases chocantes que o documentário A Confissão do Mal: As Gravações Perdidas de Eichmann (hoje, 22h00, no TVCine Edition) revela ao longo de três episódios, que cruzam momentos semelhantes de um conjunto de entrevistas de Adolf Eichmann a Willem Sassen, em 1957, com uma visão sobre o mediático julgamento que começou a 11 de Abril de 1961, em Jerusalém.
São frases pronunciadas pelo homem que também disse: “Nada me irrita mais do que um tipo que mais tarde nega as coisas que realizou”.
Exactamente o que o próprio fez no tribunal. Negou ponto por ponto qualquer responsabilidade na chamada Solução Final, declarando-se um mero funcionário a cumprir ordens superiores.
Dentro de uma redoma de vidro à prova de bala, esta postura ilegível de Eichmann – que não seria mais do que uma boa performance de actor a disfarçar o homem que outrora usara a farda com orgulho – encontrou um olhar analítico, e não intencionalmente desculpabilizador, do lado da filósofa Hannah Arendt, que, ao assistir ao julgamento, produziu a famosa e polémica teoria da “banalidade do Mal”.
A mesma que é questionada agora neste documentário do israelita Yariv Mozer, munido de material que, se tivesse sido do seu conhecimento na altura, provavelmente faria Arendt hesitar perante a própria ideia de que Eichmann encaixava num perfil mais ou menos comum a muitos nazis que trabalhavam dentro do regime. Isto é: apenas homens burocratas, sem dimensão ideológica nas suas acções.
Parte da dinâmica de A Confissão do Mal passa pelo contraste absoluto entre aquilo que Eichmann disse, ou melhor, negou em tribunal e o que se ouve nas gravações (precisamente, palavras de um fervoroso idealista).
Mas o possível impacto perturbador que se anuncia no início de cada episódio, com o aviso “Não aconselhado a todos”, tem sobretudo que ver com o contexto das ditas gravações, recriado para o efeito dramático do documentário.
Mozer ilustra os excertos áudio, que contêm a voz de Adolf Eichmann, com um cenário e actores que visam mergulhar o espectador o mais possível nos detalhes do ambiente em que decorreram as conversas gravadas pelo jornalista nazi Willem Sassen – a sua filha, Saskia Sassen, surge como orientadora dessas visões, sendo a criança que vemos espreitar atrás da porta os homens na sala do pai, e que agora, uma socióloga com idade respeitosa, fala daquela figura que transbordava energia negativa.
Há mesmo um momento das gravações em que se escuta, em fundo, essa menina a brincar perto da sala; o tipo de sons estranhos que, se não houvesse uma reconstituição da cena, não seriam identificados em rigor.

Gravador que aparece nas recriações das conversas (com a voz de Eichmann).
Recuamos então a 1957, Buenos Aires, Argentina, para onde muitos nazis se dirigiram depois da guerra, entre eles Eichmann, com outra identidade. Aí submeteu-se às referidas conversas, uma série de entrevistas com Sassen, cuja motivação pessoal, enquanto nazi, era… obter provas de que Hitler não seria o responsável pelo extermínio dos judeus.
Foi só quando percebeu a vaidade e satisfação com que Eichmann se “confessava” que decidiu dar trela à loucura de levar até ao fim aquilo que, afinal, fez desmoronar a crença. Por sua vez, a intenção do entrevistado era que as gravações só fossem divulgadas após a sua morte, para fins de “investigação científica”.
Durante o julgamento, Eichmann teve sempre a confiança de que esta prova estrondosa nunca seria ouvida naquela sala de audiências. E não foi.
Eis então outra pergunta a que o documentário procura responder: porque razão as gravações nunca chegaram às mãos do procurador-geral de Israel, Gideon Hausner, apesar de este ter conseguido transcrições das entrevistas?
Naturalmente, aqui Mozer entra no território da conjectura, sondando as complexas questões diplomáticas à volta do julgamento.
E não o faz de forma leviana: há todo um conjunto de historiadores e outros especialistas, para além de testemunhas, que reforçam o traço de investigação deste trabalho aprofundado.
Apesar de uma narração em off algo televisiva que por vezes fere o tom sóbrio de A Confissão do Mal (por certo, um encargo da co-produtora americana MGM), pode dizer-se que, num todo, funciona como um thriller.
Com a particularidade do esforço de informação: o realizador nunca dá por adquirido que todas as personagens desta história são bem conhecidas, e por isso todas as peças são encaixadas para que o retrato de Eichmann e os acontecimentos que o envolveram ganhem uma expressão completa, sem deixar de alimentar outras reflexões futuras.
No dia em que se assinala a memória das vítimas do Holocausto, esta estreia no pequeno ecrã não se constitui apenas como uma curiosidade histórica para picar o ponto.
Há, de facto, uma componente humana que atravessa os discursos e torna presente aquilo que não pode ficar arrumado no passado, nem pode ser diminuído como “banalidade do Mal”.
Como bem resumiu Mozer ao jornal The New York Times, referindo-se às gravações: “Esta é a prova contra os negacionistas do Holocausto e uma maneira de ver a verdadeira face de Eichmann.” Disso não haja dúvidas.
Diário de Notícias
Inês N. Lourenço
27 Janeiro 2023 — 07:00
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